Demorou, mas aconteceu, e o desfecho poderá ser surpreendente, se não vexatório para o Maranhão. Matéria forte publicada na edição de Domingo (09) do jornal O Estado de S. Paulo mostra que a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), criada como um instrumento de desenvolvimento para a região de influência do Velho Chico e rebatizada Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba, é uma bomba cuja explosão, se vier a acontecer, causará estragos de proporções imprevistas na malha política que alcança milhões e milhões de quilômetros quadrados, aí incluídos os 331 mil nos quais se encontram os 217 municípios maranhenses.
Com a mudança, o raio de ação geopolítico chega ao distante Amapá, e teve seu rico e cobiçado orçamento excepcionalmente reforçado, e como não poderia deixar de ser, esse mamute federal é agora apontado como um bolsão de manipulação política controlado pelo Centrão e que, por via de consequência, um foco de corrupção. Nesse contexto, o braço da Codevasf no Maranhão, que anualmente faz jorrar dezenas e dezenas de milhões de reais em pequenos projetos – que vão desde a distribuição de kits de irrigação para pequenos produtores até tratores e projetos de construção de barragens -, já teve vários controladores.
No Maranhão, como em todos os estados em que está presente, o braço da autarquia federal é controlado por um padrinho, que entre outras “prerrogativas”, detém o poder de indicar o superintendente regional, via de regra burocrata experiente, que sabe como a poderosa engrenagem funciona. Atualmente, o patrono da Codevasf no Maranhão é o deputado federal Aluísio Mendes (PSC), responsável, como manda a regra, pela indicação do atual superintendente regional, Celso Adriano Costa Dias. Antes de assumir o cargo, foi secretário parlamentar do gabinete do deputado Aluísio Mendes em Brasília.
Sua condição de autarquia que funciona como peça ativa da gigantesca engrenagem federal nos estados, financiando projetos os mais diversos, grande parte de natureza comunitária, por meio de prefeituras, faz da Codevasf um órgão público com grande capilaridade e, por isso mesmo, com imensurável poder político. Sua relação é direta com prefeitos, intermediada por senadores, deputados federais e deputados estaduais, formando uma cadeia orgânica hierarquizada e eficiente.
Para se ter ideia do poder de fogo político da Codevasf, em quatro dias da última semana de Fevereiro, conforme está documentado – não existem registros de Março e Abril -, o superintendente no Maranhão recebeu 18 prefeitos, três ex-prefeitos, dois vereadores, dois ex-vereadores, dois deputados estaduais, dois deputados federais, dois ex-deputados estaduais, um assessor de deputado federal e dois assessores de senadores. Todos tratando da liberação de recursos para municípios, a maioria devidamente articulada por senadores e deputados federais.
Essa engrenagem monumental, que movimenta bilhões de reais por ano e funciona como um poderoso motor político-eleitoral, está transformada no alvo de uma investigação cujo desfecho é absolutamente imprevisível, segundo o que está sendo sinalizado em Brasília e na imprensa. O ponto de partida é o chamado “orçamento paralelo”, por meio do qual o Governo do presidente Jair Bolsonaro criou e colocou em operação um esquema para privilegiar seus aliados com a liberação de recursos, deixando de fora os não alinhados e adversários.
A reportagem do Estadão não trouxe qualquer informação sobre eventuais desvios nos recursos aplicados pela Codevasf no Maranhão por meio da cadeia de intermediação política. Mas não deixa dúvida de que a companhia se encontra situada no epicentro do “orçamento paralelo” e será um alvo duramente bombardeado por denúncias nos próximos tempos. Já há até parlamentar falando em CPI para investigá-la.
Aluísio foi de ‘carregador’ de malas de sarney até o comando de uma das principais fontes de dinheiro do governo em tempo recorde.
Fonte: Werbeth Saraiva