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Investigado pela PF, Josimar de Maranhãozinho já elegeu mulher, irmã e motorista para prefeituras

Revista Piauí

Conhecido no Maranhão como o “Moral da BR” – por sua influência política nos municípios cortados pela rodovia federal 316 – o deputado federal Josimar Maranhãozinho, presidente estadual do PL, é investigado na Operação Descalabro, da Polícia Federal, por suspeita de desvio de recursos públicos na área da saúde. Ele se firmou como um dos principais caciques políticos do Estado nas eleições deste ano e se declara pré-candidato a governador em 2020.

O escândalo estourou nesta quarta-feira, quando agentes da PF apreenderam documentos e dinheiro na casa e no escritório do parlamentar em São Luís. A investigação foi autorizada pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski. A PF limitou-se a dizer que há um deputado federal entre os alvos da Operação Descalabro,  sem identificá-lo, porém o próprio deputado, em uma mensagem postada no Facebook, reconheceu ser alvo da investigação.

Josimar Cunha Rodrigues foi o parlamentar que  obteve mais recursos de emendas parlamentares para saúde este ano (R$ 15 milhões). A investigação, iniciada há quatro meses, apura se parte da verba aprovada para enfrentamento da Covid na região da base eleitoral do deputado, foi desviada. “Os fundos municipais de saúde, ao receber os recursos, firmaram contratos fictícios com empresas de fachada pertencentes ao deputado, que estão em nome de interpostas pessoas, desviando assim dinheiro público”, diz a nota da Polícia Federal. Ainda segundo a PF, as empresas efetuaram saques em espécie, e o dinheiro era entregue ao deputado em seu escritório em São Luís.

O ministro Lewandowski determinou o bloqueio de mais de 6 milhões de reais do patrimônio do parlamentar. O crescimento político do deputado acompanhou um aumento exponencial de seu patrimônio. Em 2008, ele declarou à Justiça Eleitoral possuir R$ 463,9 mil. Seis anos depois, ao se candidatar a deputado estadual, o patrimônio havia saltado para R$ 6,56 milhões. Na eleição para deputado federal, em 2018, já atingia R$14,59 milhões.

O clã Maranhãozinho

O PL elegeu 40 de um total de 217 prefeitos, enquanto o PCdoB, partido do governador Flávio Dino, elegeu 21. Em 2016, na reeleição de Dino, o PCdoB havia conquistado 46 prefeituras. Parte dos eleitos, no entanto, debandou para outros partidos, tempos depois, ressentida pelo descumprimento de promessas.

Josimar ganhou o apelido por ter iniciado a carreira política no pequeno município de Maranhãozinho, de pouco mais de 16 mil habitantes, a 245km da capital São Luís. Nascido e criado no Vale do Cariri, no Ceará, era vendedor das tradicionais cadeiras macarrão, de estrutura de tubos de ferro e assentos coloridos de fios de plástico. Em 2004, disputou sua primeira eleição para prefeito. Em 2008, não apenas se reelegeu em Maranhãozinho, como sua mulher Maria Deusdete Lima, a Detinha, tornou-se prefeita do município vizinho, chamado Centro do Guilherme.

Em 2012, seu ex-motorista José Auricelio de Morais o sucedeu como prefeito de Maranhãozinho; a mulher Detinha foi reeleita prefeita de Centro do Guilherme, e o irmão Aldir Cunha Rodrigues assumiu o comando da prefeitura de outro município vizinho, Junco do Maranhão.  Em 2016, o clã passou a comandar a maior cidade da região, Zé Doca (de 50 mil habitantes), com a eleição de Maria Josenilda Cunha Rodrigues, a Josinha, uma das irmãs de Josimar. Em 2018, ele foi o deputado federal mais votado no Maranhão, e a mulher Detinha se tornou a mais votada para deputada estadual.

Porém, de acordo com relatos de políticos ouvidos pela piauí, nada se compara ao rolo compressor do clã de Maranhãozinho na campanha eleitoral deste ano. Entre os quarenta prefeitos eleitos do PL estão Josinha – reeleita em Zé Doca com 72,2% dos votos –  e a cunhada Deusinha (Maria Deusa Lima Almeida, irmã de Detinha), eleita em Maranhãozinho. O deputado federal se fazia presente em todos os comícios, mesmo dos municípios menores, e costumava se deslocar de uma cidade para outra de helicóptero.

O crescimento de Josimar Maranhãozinho acontece no vácuo deixado pelo esvaziamento do grupo político do ex-presidente José Sarney, que tem sofrido sucessivas derrotas no Estado e tinha sua principal base no interior. O deputado conquistou espaço se equilibrando nesse jogo: no Estado, é da base de Flávio Dino (PCdoB), mas, nacionalmente, apoia o presidente Jair Bolsonaro.

Um exemplo do rolo compressor imposto pelo PL ocorreu no município de Pio XII, onde duas famílias tradicionais locais – Os Veloso e os Batalha – se revezavam no poder desde 1988. O prefeito atual, Carlos Alberto Batalha, o Carlos do Biné (DEM), estava confiante de que venceria os dois adversários: Lucilene Veloso (PP) e o estreante Aurélio da Farmácia, do PL. Mas o novato saiu-se  vencedor, e o rodízio de poder entre os Veloso e os Batalha chegou ao fim. “Até uma semana antes da eleição, eu estava certo de que iria vencer. O adversário estava com muito dinheiro e distribuiu material de construção aos mais pobres”, afirmou.

Em entrevista por telefone à piauí, Carlos do Biné disse ter enfrentado uma concorrência desigual. O PL também elegeu o prefeito da cidade vizinha, Igarapé do Meio. “A disputa aqui foi de Davi contra Golias. Não foi coisa de menina fêmea”.

Biné foi um dos 46 prefeitos eleitos pelo PCdoB em 2016, mas migrou para o Democratas antes das eleições. “Troquei por falta de apoio da direção do governador. Fui aliado de primeira hora do Flávio Dino, nunca tive atrito com ele, mas acho que nos faltou guarida.  Já o Josimar Maranhãozinho mergulhou de cabeça nas campanhas dos aliados e acenou com muito dinheiro para obras.”

As suspeitas sobre a evolução patrimonial do deputado Maranhãozinho não são recentes. O deputado federal Aluísio Mendes, do PSC, seu adversário político e ex-secretário de Segurança Pública do Estado do Maranhão, de 2010 a 2014, no governo de Roseana Sarney, afirmou à piauí que tem feito sucessivas representações criminais contra Maranhãozinho e cobrado investigações da Polícia Federal.

A Superintendência da Polícia Federal do Maranhão afirmou, por meio da assessoria de comunicação, que as investigações da Operação Descalabro estão a cargo da PF em Brasília e que a superintendência maranhense apenas forneceu suporte para o cumprimento dos 27 mandados de busca e apreensão em São Luís e em prefeituras do interior.

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