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VIOLENCIA E SOCIABILIDADE NAS ESCOLAS: o que podemos aprender com a tragédia na Vila Sônia-SP

Por: Jonathan Guimarães

“(…) desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje em dia.” (THEODOR ADORNO).

Na última segunda feira do mês de março (27), os noticiários foram inundados com o triste episódio ocorrido na Vila Sônia, em São `Paulo, protagonizado por um adolescente de treze anos, que deixou uma professora morta e cinco pessoas feridas.
De lá pra cá, em um espaço temporal de uma semana, apenas em nosso estado outras tentativas semelhantes foram noticiadas, mas que felizmente tiveram desfechos menos doloroso.
Estes eventos não são casos isolados e é imprescindível que aprofundemos os debates sobre nossas escolas, adolescentes e a sociabilidade violenta que permeia as relações de grande parte de nossos estudantes.
Em acontecimentos como este é tentador buscar um único culpado e simplificar os diagnósticos. O sistema de contribuição aqui é amplo e diversificado. Ainda assim com a complexidade que o fato exige, toma-se dois aspectos que acredita-se contribuir para uma reflexão, sejam eles: as relações de poder na adolescência e a criação de vínculos nas unidades educacionais.
Antes de cometer o atentado na Escola Estadual Thomazia Montoro, o adolescente infrator já havia feito ameaças em redes sociais e alegou problemas familiares, assim como à prática do bullying que sofria.
Em pesquisa intitulada “Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas: falam os Jovens”, da Faculdade Latino-Americano de Ciências Sociais (FLACSO, 2016), constatou que na capital maranhense, 85% dos alunos consideram que há práticas de violência no ambiente escolar. 70% destas ações são praticadas por outros colegas. 33 % relataram já terem visto a presença de armas.
Tais dados nos indicam que no processo de construção de identidade, busca de autonomia, e sociabilidade dos adolescentes, perpassa pela construção de relações de poder pautadas na hierarquização e diferenciação, onde práticas discriminatórias compõem o cotidiano deste segmento.
Embora com suas especificidades, o universo dos discentes refletem práticas societárias mais amplas. Em que são construídas bases de um poder simbólico (Bourdieu,2002), que funciona como instrumento de legitimação de dominação, buscando impor sua visão de mundo e as práticas que os definem como pessoas/grupo.
Contudo, não basta apenas impor um modelo de vivência e de expressividade, os estudantes que se impõe precisam deixar claro , quem deve ser aceitos ou não dentro das dinâmicas de relações de sociabilidade.
Tal cenário vai de encontro às nossas necessidades irredutíveis de amor e aceitação enquanto espécie. Ser aceito e criar vínculos faz parte de nossas vidas e para os adolescentes tem importância ainda maior, haja vista que é na relação com os seus pares que se desenvolve os processos de individualização, amadurecimento e desenvolvimento de sua posição no mundo.
É recorrente que os autores de atentados em escolas relatam problemas de relacionamento com outros alunos. Acumulam uma série de episódios em que suas identidades foram anuladas. Foram submetidos a circunstancias constrangedoras.
E dentro de um contexto de exacerbação e reverberação de discursos de ódios, estes se tornam terreno fértil para que algumas vítimas de bullying se apropriem, se beneficiem e desenvolvam seus planos extremistas.
Claro que a escola não tem monopólio sobre a socialização, no entanto, é nela que boa parte deste processo se efetiva para o público infanto-juvenil. Por isso, é indispensável que esta compreenda as dinâmicas em que se dá a sociabilidade dos alunos e inclua em suas práticas pedagógicas, que ainda são tímidas, modos de intervir e guia-los para a construção de relações sociais pautadas no respeito e na não discriminação.
Para além das obrigações formais e a busca por melhores índices em inúmeros testes de qualidade educacional, desbarbarizar torna-se cada vez mais imperativo inadiável para nós educadores.

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